Linguagem Guilhotina #16 - O insólito no mercado nacional
Uma polêmica e o anúncio de uma pausa.
Horror e Insólito no Mercado Editorial
Ficou disponível minha participação no podcast do PublishNews. Fiquei muito feliz pelo convite, porque escuto há anos o podcast e gosto bastante dele. Dá um quentinho no coração quando a gente participa, ainda mais para falar do próprio trabalho como autor, de um espaço que admiramos e que possui um público bem amplo. Acompanhado da escritora Amanda Orlando, escritora de horror e editora da Globo, batemos um papo sobre nossos livros, sobre o insólito na literatura e sobre como o mercado editorial tem reagido ao que eu chamo, e já disse isso em várias entrevistas, de “boom da literatura insólita nacional”. Também destaquei o quanto é importante que a literatura nacional busque, no insólito, a construção de uma voz própria, que precisa se distanciar em especial do sotaque dos grandes nomes, e dos produtos audiovisuais, que tanto amamos.
No entanto, nem tudo são flores, e nossa conversa foi bastante criticada no meio literário. Aceito as críticas com humildade e sempre estarei à disposição para dialogar, em especial se os interlocutores vierem conversar diretamente comigo. Sinto que na conversa com Amanda e com o pessoal do PN, falhei em citar de forma mais específica exemplos da força da produção atual do insólito brasileiro. É por isso que gostaria de usar este espaço da minha newsletter para corrigir isso em alguma medida. Os exemplos abaixo são apenas alguns das dezenas de ótimas iniciativas e tentam responder a uma pergunta fundamental: onde encontrar as novas vozes da literatura insólita brasileira? Meu recorte aqui, que não é exaustivo, privilegia as editoras independentes, porque entendo que no caso das editoras de médio e maior porte, o acesso aos seus projetos já está mais visível.
Bora?
Terrores Latinos
Organizado por Lucas Marchetti e Vitto Graziano, a antologia é uma ótima forma de conhecer a nossa literatura contemporânea de horror. Com autores premiados, ela também revela um mosaico bastante interessante da diversidade de perfis autorais desta produção. Tive a honra de ter escrito um dos textos de apresentação do livro. Na Terrores Latinos, cada autor(a) utilizou, como base do seu conto, um monstro ou mito folclórico de um país, cultura ou região latino-americana.
Coleção Dragão Negro
Outra ótima entrada na produção contemporânea de horror brasileiro é a coleção Dragão Negro, publicada pela editora Draco. Ela é composta por novelas escritas por Oscar Nestarez, Paula Febbe, Larissa Padro, Marcelo A. Galvão, Jaime Azevedo, Cirilo S. Lemos. Cada edição ficou belíssima e os autores participantes são alguns dos mais macabros, intensos e criativos do horror brasileiro nesse momento. Escrevi o posfácio de um dos volumes da coleção, a novela de Nestarez, que retoma o tema do duplo em uma ambientação suburbana em São Paulo.
Coleção Futuro Infinito
Chega de coisa trevosa, Cristhiano! Seu pedido é uma ordem. Como vocês sabem, adoro ficção científica e a literatura brasileira tem uma tradição de ficção científica que remonta, no mínimo, ao século XIX.
Por onde começar a conhecer a ficção científica brasileira atual? Uma boa pedida é a coleção Futuro Infinito, publicada pela Patuá com curadoria do escritor Nelson de Oliveira. Vozes importantes como Braulio Tavares, Fabio Fernandes e André Cáceres são publicados na coleção. Além disso, quero destacar o volume Violetas, unicórnios & rinocerontes. Organizado por Claudia Dugim, o livro compila contos de ficção científica brasileira queer.
Resenhei, faz alguns anos, um dos volumes desta coleção, na época em que eu tinha uma coluna de literatura na revista Pessoa. Vocês podem ler minha resenha do livro Fanfic, de Braulio Tavares, aqui.
Eita! Magazine
Ainda não tive oportunidade de ler com calma a Eita! Magazine, mas ela tem estado no meu radar faz tempo. A proposta da revista é divulgar internacionalmente a literatura insólita contemporânea brasileira em suas diferentes vertentes. Para isso, todos os contos selecionados em cada edição são traduzidos para o inglês. Gostei demais da iniciativa. Entendo que ela é uma aposta de médio e longo prazo dos seus criadores e tenho certeza de que muitos bons frutos ainda serão colhidos a partir dela.
Antologias da editora Avec
Há anos eu acompanho o catálogo da Avec para me manter informado da produção atual. A editora tem duas coleções de contos que também dão um panorama da diversidade da nossa produção nacional. Uma delas é a Multiverso Pulp, na qual cada volume está dedicado a contos escritos dentro de algum gênero insólito. Destaque, por exemplo, para os volumes dedicados às vertentes da Fantasia, talvez hoje um dos gêneros do insólito com mais espaço e potencial comercial no mercado brasileiro atual. Mas também vale o destaque para uma das mais tradicionais antologias de contos de horror nacional: Narrativas do Medo, série de vários volumes organizados por Vitor Abdala.
As indicações acima são apenas a ponta do iceberg da efervescência que tomou conta da literatura insólita nacional, em especial no mercado editorial independente. Se vocês quiserem continuar esta conversa, tem, aqui na newsletter, entrevistas com Ana Rüsche e Oscar Nestarez sobre ficção científica e horror, respectivamente.
💾 Atualizações do(s) livro(s) novo(s)?
Trago notícias dos dois projetos nos quais estou trabalhando. Creio que só fico plenamente feliz quando estou às voltas com algo a ser escrito, em especial se for ficção. Por outro lado, os últimos meses, antes da retomada da escrita em março desde ano, também foram importantes, pelo alívio de não ter que me comprometer com algo a ser dito. Faz sentido para vocês? Nem sei bem se faz sentido para mim.
Mas estou me dispersando. O livro de crítica literária continua na gaveta, 90% feito. Acho improvável voltar a ele antes de retornar ao Brasil. Assim que voltar ao manuscrito, vou revisar tudo, escrever o que falta e começar a pensar em um caminho editorial viável para ele. Como já disse, se trata de textos sobre literatura brasileira, entremeados com o que chamo de “verbetes do contemporâneo". Mais não digo.
Por outro lado, após finalizar contos de encomenda e um conto longo de horror ambientado aqui em Princeton (e este conto ficará meses na gaveta), eu pelejei para encontrar um projeto de algo mais extenso que ocupasse os próximos meses e o encontrei. Desde a segunda semana de junho comecei a escrever uma narrativa longa, que imagino vai ser uma novela, ou um romace magro. Publicarei? Vejo potencial, mas há uma longa caminhada ainda. Estou gostando muito de escrevê-la, porém.
Pausa
Dito tudo isso, quero agora dizer para vocês que esta newsletter entra em um hiato de pelo menos duas semanas, ou até três. A partir desta semana me dou “férias” da minha rotina aqui em Princeton. Por isso, estou ficando poucos dias na cidade. Recebo visitas, viajo, passeio. Ao voltar desse período, já me preparo para as duas últimas semanas nos Estados Unidos. Em seguida, hora da bem-vinda volta, em definitivo, para casa. De agosto em diante, acho muito difícil eu conseguir escrever toda semana para vocês. Voltarei ao plano original de fazer uma newsletter mensal ou no máximo quinzenal.
Pensativo sobre o futuro e os recentes acontecimentos, me despeço com um “até logo”.
C.
Fiquei super interessado no "Violetas, unicórnios & rinocerontes", obrigado pela indicação!
Bom jeito de responder, Cristhiano. Não acompanhei a treta, mas vi a rebarba dela justamente com as pessoas fazendo várias indicações de autores nos stories. um abraço e boa reta final por aí