Nesta edição, compartilho breves impressões sobre Tudo é rio, de Carla Madeira, e penso um pouco sobre as reações da minha bolha literária a esta leitura.
Li o livro por recomendação apaixonada da minha mãe, que tem preguiça de ficção e por isso fiquei intrigada. Ela ainda meteu um "e como escritora é muito importante você ler!!!!". Eu li, broxei com o final porque achei forçado - menos sobre a política, e mais sobre uma varinha de condão que resolve tudo. Divirjo (?) total da visão de mundo do romance, mas nem essa questão nem o final anulam que achei muito bem escrito. Lendo dá pra notar esses ingredientes que o fizeram explodir, e que dizem muito sobre o público específico qhe abraçou a Carla Madeira - não é uma crítica, só uma constatação mesmo. Curti seu texto, achei um olhar bem sóbrio e faltam homens falando do trabalho de mulheres dessa forma
Cristhiano, gostei demais da sua leitura, apesar de não ter sido exatamente a mesma que fiz (e que bom, rs). Mas acho que concordamos no ponto principal: as críticas que repudiam o fim da história parecem exigir uma ética que não faz parte da história e das suas personagens. Fiquei um tanto chocada quando descobri que algumas pessoas acusavam a autora de romantizar a violência. Parece que não suportamos mais nos deparar com o errado e o contraditório na literatura! Para mim, que assim como você não amou a linguagem poética, a maior riqueza foi justamente os personagens vivos e cheios de camadas. Enfim, gostei demais da sua leitura e aprendi com ela.
Oi Seane: obrigado pela leitura do meu texto! Acho que há muitas críticas válidas ao livro, mas concordo contigo que não creio nessa vulgarização da violência ali. Sim, convergimos também na questão da nossa relação com as personagens, embora depois outras pessoas tenham me lembrado de inverossimilhanças com as quais concordo, como é o caso da carta escrita pela mãe de Dalva. Eu acabei fazendo meu texto a partir da memória da leitura do romance, que fiz há algum tempo já, porque o exemplar não era meu, tinha sido emprestado pra mim por uma ex-namorada. Depois pretendo ter o romance no Kindle. Abraços!
Gostei muito da edição. Conheci a newsletter, aliás, por meio dela, via recomendação do Substack por e-mail. Também sou um homem cis que leu Tudo é Rio, Cristhiano, portanto não se sinta só hahahaha brincadeira.
Ótima análise do livro. Acredito, no entanto, que vale mencionar algo: já ouvi algumas entrevistas da Carla dizendo que em nenhum momento ela afirmou haver o perdão no final do livro. A construção talvez dê bastante a entender, mas ela garante que a interpretação e o desenho final é da responsabilidade de cada um.
Bem-vindo Esdras! Não me sinto mais só hehehe. Olha, Esdras, eu não concordo com a interpretação dela, viu, me parece um livro do perdão sim. Aliás, me chama atenção essa entrevista, vou procurar. Sempre gosto de entender como os autores interpretam suas próprias obras, embora eu nunca veja neles a palavra afinal a respeito do que escrevem (e não estou dizzendo que tu tá afirmando isso). Eu próprio, no meu trabalho como ficcionista, considero que a interpretação que faço da minha obra é tão subjetiva quanto a de qualquer leitor e leitora. Abraços!
Concordo demaisssss com esse final de que a interpretação do autor também pode ser subjetiva (e às vezes até meio defensiva a depender da análise dos outros hahaha). Querido, a entrevista que ela faz essa ressalva, se não me engano, é ao Bom Dia, Obvious. Um abração, estarei de olho no seu trabalho por aqui!
Que legal esse texto! Eu confesso que recebi esse livro com recomendações apaixonadas (a favor e contra). Óbvio que li porque muitas vezes o contra é o que mais aguça minha curiosidade. Eu gostei da escrita, até mesmo da temida prosa poética que todo mundo critica. Acho que combina super bem com a ambientação da narrativa. É isso, a história de Tudo é rio não tá aí pra contemplar nossas expectativas (e que bom que não é assim). Os problemas que me incomodaram e ainda não vi em discussão têm mais a ver com o narrador e seu discurso datado (no seu texto você chama de religioso). Eu o chamo de conservador, um senhorzinho de fraque lá dos anos 1950. Fora isso, Carla Madeira merece todos os louros por causar esse grande frisson movimentando nosso mercadinho tão tímido.
Obrigado pela leitura! Olha, não colocaria o discurso do romance nos termos que você colocou, até porque acho que o frade da década de 50 construiria um discurso de perdão do agressor em função de uma visão essencialista de gênero, no sentido de dizer “esta é a natureza do homem”, por aí vai. Eu leio o romance como só possível no contemporâneo, mas de um lado menos disruptivo do contemporâneo do que é predominante na nossa bolha… mas, como disse na resposta ao comentário anterior, isso faz a riqueza da leitura de um romance e do debate literário, as discordâncias e visões diferentes sobre o texto.
Eu me referia mais aos julgamentos dos comportamentos sexuais das personagens (demorei a responder, desculpa). Ando com o olho treinado para criticar narradores que classificam mulheres em santas ou p... (não santas).
Li uma crítica antes da leitura do livro (de auroria do professor e crítico Luiz Augusto Fisher, na Folha de S.Paulo) que comparava o mesmo a um folhetim, pronto para virar novela.
Nada contra folhetins (dizia ele) nem novelas, tem público para todos os gêneros, mas concordo com a crítica.
O mais difícil, para mim, como leitora de Tudo é Rio, foi a falta de consistência e credibilidade nos personagens. Isso não cria empatia nem envolvimento.
Legal Lena, eu conheço a resenha do professor Fischer, embora não concorde tanto com ela, em especial pelo viés do folhetim que ele utiliza. Veja que também minha experiência com as personagens do romance é mais positiva do que foi a sua. Isso faz a riqueza da leitura de um romance. Obrigado pela leitura do meu texto.
Já topei várias vezes com o livro e fiquei na dúvida se comprava e lia ou não. Primeiro eu via muita gente glorificando o livro e não sou muito fã de hype; depois, as pessoas começaram a falar mal e eu fiquei ainda mais confuso. Talvez seja o caso de eu ler e descobrir por mim mesmo!
Li e concordo em muitos pontos. Principalmente depois de ter lido “a natureza da mordida”, começou a me incomodar muito a forçação de barra por uma linguagem poética e também por essas lições diluídas no texto. Embora “tudo é rio” tenha sido uma leitura agradável na época, “a natureza da mordida” me pareceu terrivelmente forçado .
Li o livro por recomendação apaixonada da minha mãe, que tem preguiça de ficção e por isso fiquei intrigada. Ela ainda meteu um "e como escritora é muito importante você ler!!!!". Eu li, broxei com o final porque achei forçado - menos sobre a política, e mais sobre uma varinha de condão que resolve tudo. Divirjo (?) total da visão de mundo do romance, mas nem essa questão nem o final anulam que achei muito bem escrito. Lendo dá pra notar esses ingredientes que o fizeram explodir, e que dizem muito sobre o público específico qhe abraçou a Carla Madeira - não é uma crítica, só uma constatação mesmo. Curti seu texto, achei um olhar bem sóbrio e faltam homens falando do trabalho de mulheres dessa forma
Bacana Bia, muito obrigado pela leitura!
Cristhiano, gostei demais da sua leitura, apesar de não ter sido exatamente a mesma que fiz (e que bom, rs). Mas acho que concordamos no ponto principal: as críticas que repudiam o fim da história parecem exigir uma ética que não faz parte da história e das suas personagens. Fiquei um tanto chocada quando descobri que algumas pessoas acusavam a autora de romantizar a violência. Parece que não suportamos mais nos deparar com o errado e o contraditório na literatura! Para mim, que assim como você não amou a linguagem poética, a maior riqueza foi justamente os personagens vivos e cheios de camadas. Enfim, gostei demais da sua leitura e aprendi com ela.
Oi Seane: obrigado pela leitura do meu texto! Acho que há muitas críticas válidas ao livro, mas concordo contigo que não creio nessa vulgarização da violência ali. Sim, convergimos também na questão da nossa relação com as personagens, embora depois outras pessoas tenham me lembrado de inverossimilhanças com as quais concordo, como é o caso da carta escrita pela mãe de Dalva. Eu acabei fazendo meu texto a partir da memória da leitura do romance, que fiz há algum tempo já, porque o exemplar não era meu, tinha sido emprestado pra mim por uma ex-namorada. Depois pretendo ter o romance no Kindle. Abraços!
Gostei muito da edição. Conheci a newsletter, aliás, por meio dela, via recomendação do Substack por e-mail. Também sou um homem cis que leu Tudo é Rio, Cristhiano, portanto não se sinta só hahahaha brincadeira.
Ótima análise do livro. Acredito, no entanto, que vale mencionar algo: já ouvi algumas entrevistas da Carla dizendo que em nenhum momento ela afirmou haver o perdão no final do livro. A construção talvez dê bastante a entender, mas ela garante que a interpretação e o desenho final é da responsabilidade de cada um.
Parabéns pelo trabalho, um abraço!
Bem-vindo Esdras! Não me sinto mais só hehehe. Olha, Esdras, eu não concordo com a interpretação dela, viu, me parece um livro do perdão sim. Aliás, me chama atenção essa entrevista, vou procurar. Sempre gosto de entender como os autores interpretam suas próprias obras, embora eu nunca veja neles a palavra afinal a respeito do que escrevem (e não estou dizzendo que tu tá afirmando isso). Eu próprio, no meu trabalho como ficcionista, considero que a interpretação que faço da minha obra é tão subjetiva quanto a de qualquer leitor e leitora. Abraços!
Concordo demaisssss com esse final de que a interpretação do autor também pode ser subjetiva (e às vezes até meio defensiva a depender da análise dos outros hahaha). Querido, a entrevista que ela faz essa ressalva, se não me engano, é ao Bom Dia, Obvious. Um abração, estarei de olho no seu trabalho por aqui!
Que legal esse texto! Eu confesso que recebi esse livro com recomendações apaixonadas (a favor e contra). Óbvio que li porque muitas vezes o contra é o que mais aguça minha curiosidade. Eu gostei da escrita, até mesmo da temida prosa poética que todo mundo critica. Acho que combina super bem com a ambientação da narrativa. É isso, a história de Tudo é rio não tá aí pra contemplar nossas expectativas (e que bom que não é assim). Os problemas que me incomodaram e ainda não vi em discussão têm mais a ver com o narrador e seu discurso datado (no seu texto você chama de religioso). Eu o chamo de conservador, um senhorzinho de fraque lá dos anos 1950. Fora isso, Carla Madeira merece todos os louros por causar esse grande frisson movimentando nosso mercadinho tão tímido.
Obrigado pela leitura! Olha, não colocaria o discurso do romance nos termos que você colocou, até porque acho que o frade da década de 50 construiria um discurso de perdão do agressor em função de uma visão essencialista de gênero, no sentido de dizer “esta é a natureza do homem”, por aí vai. Eu leio o romance como só possível no contemporâneo, mas de um lado menos disruptivo do contemporâneo do que é predominante na nossa bolha… mas, como disse na resposta ao comentário anterior, isso faz a riqueza da leitura de um romance e do debate literário, as discordâncias e visões diferentes sobre o texto.
Eu me referia mais aos julgamentos dos comportamentos sexuais das personagens (demorei a responder, desculpa). Ando com o olho treinado para criticar narradores que classificam mulheres em santas ou p... (não santas).
Li uma crítica antes da leitura do livro (de auroria do professor e crítico Luiz Augusto Fisher, na Folha de S.Paulo) que comparava o mesmo a um folhetim, pronto para virar novela.
Nada contra folhetins (dizia ele) nem novelas, tem público para todos os gêneros, mas concordo com a crítica.
O mais difícil, para mim, como leitora de Tudo é Rio, foi a falta de consistência e credibilidade nos personagens. Isso não cria empatia nem envolvimento.
Legal Lena, eu conheço a resenha do professor Fischer, embora não concorde tanto com ela, em especial pelo viés do folhetim que ele utiliza. Veja que também minha experiência com as personagens do romance é mais positiva do que foi a sua. Isso faz a riqueza da leitura de um romance. Obrigado pela leitura do meu texto.
Me chamam a atenção as reclamações de que o livro não traria uma boa lição de moral. Vejo principalmente no twitter.
Isso é inacreditável, até porque o livro basicamente joga na sua casa a importância do perdão (cristão).
Exigências inacreditáveis estão na moda rs
Já topei várias vezes com o livro e fiquei na dúvida se comprava e lia ou não. Primeiro eu via muita gente glorificando o livro e não sou muito fã de hype; depois, as pessoas começaram a falar mal e eu fiquei ainda mais confuso. Talvez seja o caso de eu ler e descobrir por mim mesmo!
Para mim a leitura valeu a pena. Muito curioso esse arco de recepção que tu tá descrevendo.
Li e concordo em muitos pontos. Principalmente depois de ter lido “a natureza da mordida”, começou a me incomodar muito a forçação de barra por uma linguagem poética e também por essas lições diluídas no texto. Embora “tudo é rio” tenha sido uma leitura agradável na época, “a natureza da mordida” me pareceu terrivelmente forçado .
Interessante, devo ainda pegar algum outro romance pra saber como a autora desenvolveu seu estilo.