Perguntas para janeiro
Um adeus a um mestre do cinema + algumas coisas legais que já rolaram no começo de 2025.

Janeiro
Queridas leitoras e leitores:
Como estamos?
Eu confesso para vocês que não tenho lá um grande assunto, ou pauta. Senti, porém, uma onda bem interessante de novos assinantes por aqui, bem como de novos perfis e newsletters sendo criados no Substack.
Embora não tenha assunto, passo para dizer um “oi”.
Andei tão desnorteado, tão difuso e, ao mesmo tempo, nunca olhei tanto na direção de algumas questões que me constituem. Estive em extremos de silêncio e de vida social agitada. Penso, porém, que a minha vidinha, que é esse barquinho a vela, voltou a navegar por águas mais tranquilas.
Há muito trabalho pela frente até o final do semestre, o que me fará escrever por aqui ainda menos do que de costume. Por outro lado, pretendo fazer com maior periodicidade comentários sobre livros que li e usarei o feed do Notes, aqui no Substack, assim como estou comentando filmes que vou vendo lá no Letterboxd.
Semana passada, muitas imagens interessantes ativaram minha imaginação. Decidi guardá-las, porém uma eu quero compartilhar: no metrô, a caminho da minha terapia (tenho feito duas sessões semanais desde o final do ano), eu observei o quanto 80% das pessoas que estavam no meu vagão usavam seus celulares. De imediato, me vieram à mente imagens de quadrinhos e animes de ficção científica. Já é um clichê dizer que o futuro chegou anteontem, não é mesmo? Me vi ao redor de pessoas que estavam enredadas entre um mundo físico e um mudo virtual. Todos nós estamos nesse labirinto. Você inclusive pode estar agora lendo este texto em seu celular em um metrô, enquanto eu te observo à distância.

Vivemos, de maneira ora simultânea, ora alternada, porém cada vez mais simultânea, em diferentes realidades da experiência cotidiana. Vivemos em um campo de disputa sobre quais narrativas vão simbolizar nossa experiência com a realidade. Qual a nossa responsabilidade diante de tudo isso? E o quê contar histórias, em especial mediante a literatura, pode significar? Ao voltar da terapia, descendo a rua da Consolação após sair da estação de metrô mais próxima da minha casa, fiquei hipnotizado pela fachada de um prédio. A fachada se movia e piscava cores coloridas, porque foi usada como suporte para projeções de desenho animado em estilo japonês. Enquanto isso, uma pessoa, na esquina oposta a do prédio, segurava um controle remoto nas mãos e o utilizava para controlar um drone.
Quero lembrar, aliás, que um dos reis da estranheza cotidiana faleceu esses dias. Me refiro ao cineasta estadunidense David Lynch, um dos meus diretores favoritos. Escrevi lá no meu Instagram que durante meus vinte e poucos anos tentei copiar furiosamente, na literatura, os seus filmes. Tenho feito aos poucos uma maratona Lynch e que prazer tem sido reencontrar seus pesadelos eróticos, desconfortáveis, inclassificáveis. Um dos méritos de Lynch consiste em criar narrativas que, se por um lado resistem à interpretação, por outro conseguem ainda assim ser apreensíveis na sua significação geral. Comparo ver os seus filmes (há exceções) e Twin Peaks, a sua série televisiva, como a de enxergar a realidade com as pupilas dilatadas: o sentido, nossa, ele está ali!, porém desfocado.
Cogitei fazer minha homenagem a Lynch, mas sinceramente nada do que eu diga vai ser melhor do que estes três substacks que quero indicar para vocês:
, com seu texto E quem é o sonhador?; com o texto Meu adeus a David Lynch; Oscar Nestarez com o texto Me encontrei na Estrada Perdida. Também gostei do panorama geral da carreira de Lynch que o jornalista Roberto Sadovski escreveu na sua coluna no UOL. Aproveitem! E, para quem não conhece a obra de Lynch, fica o estímulo. Nada melhor do que se perder nela, eu garanto.Antologia Árido na Folha de São Paulo
Fiquei muito feliz de ver uma bela leitura da antologia Árido publicada no começo do ano na Folha de São Paulo. Para os recém-chegados, a Árido é uma antologia de contos na qual cinco autores, e eu sou um deles, escreve contos homenageando ou reinventado o universo de Vidas secas, de Graciliano Ramos. O livro saiu pela editora Rocco. Da crítica da Folha, escrita por Shisleni de Oliveira-Macedo, destaco este trecho:
“As cinco pessoas que assinam o livro vêm das cinco regiões diferentes do Brasil, o que se reflete em como constroem suas histórias, habitadas por personagens de pele escura e uma mulher trans, por exemplo, com estilos de escrita próprios e sem estereótipos. É uma combinação excepcional, que espanta rótulos apressados como a —obsoleta— classificação de "regionalista", usada em outros tempos para marcar obras de escritoras e escritores de fora do Sudeste.”
Para ler o texto completo, é só clicar aqui.
São Paulo na literatura brasileira + Clube de leitura sobre Gótico Nordestino
Para comemorar o aniversário de São Paulo, o site da Universidade Presbiteriana Mackenzie, onde dou aulas, me entrevistou sobre a importância da cidade para nossa literatura. Eu indiquei, além disso, cinco livros de prosa que são uma ótima leitura para quem quer viver a cidade através da literatura. Deixo abaixo um trecho da reportagem com a entrevista:
“De acordo com o professor de Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), Cristhiano Motta Aguiar, existem duas palavras que ajudam a compreender as representações literárias sobre São Paulo. “São Paulo é um lugar comparado a um labirinto no qual vozes e personagens se perdem e se reencontram. Este labirinto-cidade é também marcada pela infinitude: a nossa literatura parece enxergar São Paulo como a cidade sem fronteiras, a cidade cuja expansão não encontra limites físicos ou temporais”, afirma.”
Se você quiser saber quais são os cinco livros que indiquei, é só clicar aqui.
Outra notícia massa é que o clube de leitura de livros de horror, e de literatura fantástica malévola em geral, o Encruzilhada Clube, escolheu meu Gótico Nordestino como livro do mês de janeiro.
O clube é mediado pela minha querida
, a quem agradeço tanto a escolha do meu livro, quanto o convite para conversar com o clube no dia 01/02 às 9h. O clube é on-line. Para saber como participar, é só vocês passarem no perfil do instagram: Encruzilhada Clube.Até a próxima edição. Aliás, passei pelo centro de São Paulo no sábado e senti já a energia fogosa do carnaval.
Se cuidem!
C.