Queridas e queridos assinantes: nas últimas semanas dei duas longas entrevistas para dois ótimos portais - a Mídia Ninja, que dispensa apresentações, e o Caixa-Preta, do escritor Paulo Henrique Passos. Foram duas das melhores entrevistas que dei em anos recentes e não poderia deixar de compartilhar com vocês. Fiz um bom balanço da minha carreira, das minhas visões sobre literatura, comentei os meus livros de ficção, falei sobre educação e crítica literária e apontei o que pode vir para o futuro. Após um primeiro semestre de muitos desafios, fico feliz em dizer para vocês que o segundo semestre de 2024 parece apontar caminhos bonitos. Estas duas entrevistas se tornaram especiais também neste sentido, o da minha busca de me entender, de me reencontrar e de retomar uma narrativa positiva sobre mim mesmo. Fica, portanto, o convite à leitura delas.
Mídia Ninja - O ser da literatura

Isis, jornalista da Mídia Ninja, além de ter lido o Gótico Nordestino, também é, para minha alegria, uma leitora desta newsletter. Dessa forma, fiquei feliz em saber que meu trabalho a motivava o suficiente para que pudêssemos conversar. Eu sou bem fã da Mídia Ninja há anos e nunca imaginei que poderia um dia ser entrevistado e aparecer no site deles. Foi de fato uma honra! Como escrevi semanas atrás nas redes sociais, eu sinto que é preciso existir, entre entrevistador e entrevistado, a construção de um espaço próprio. Construído o espaço, a dupla, ou quantos entrevistam e quantos serão entrevistados, tecem em conjunto o diálogo-discurso da entrevista. Isso aconteceu fortemente comigo e com Isis, baseado na habilidade da jornalista e em nossa mútua admiração. Apreciei que pudemos nos encontrar pessoalmente e conversar, o que sempre leva a entrevista a lugares muito imprevisíveis. Lembro do quanto eu estava contente, num raro momento de pouco turbilhão em meu coração, naquela tarde bonita, que depois se esticou ao longo da noite à medida que eu encontrava amigos e amigos para a boa e velha cervejinha.
Quer ler a entrevista? É só clicar aqui. Abaixo, deixo dois trechos dela.
Sobre meu campo de referências para a escrita:
“As referências variam de projeto a projeto. Se você me perguntasse isso ano passado, eu te daria um conjunto de referências diferentes. Se você me perguntasse há 10 anos, eu te daria um outro conjunto de referências. A minha referência principal é a literatura, minhas referências principais são a literatura. Principalmente literatura fantástica do século XIX, literatura modernista, brasileira e em língua inglesa, literatura contemporânea. E também todo tipo de literatura fantástica, horror, fantasia, ficção científica. Mas, as referências extrapolam a literatura também. Eu vou falar que as referências podem ser minha vivência também, a minha avó, minhas duas avós. Uma referência importante para mim é a Bíblia. Porque eu venho de um lar protestante, eu fui criado na religião protestante, embora hoje eu não frequente mais essa religião. A Bíblia é um ponto de partida e de chegada para mim: a minha primeira relação com histórias e com poesia vem pela Bíblia. E aí entram também histórias em quadrinhos, filmes, séries”.
Gótico Nordestino e personagens femininas:
“Mas para o Gótico Nordestino, Cristhiano me contou que usou muita referência feminina, e Elena Ferrante é uma figura bastante importante para o livro. “A maior parte das minhas personagens principais do Gótico são mulheres e isso é um desdobramento dessa leitura que eu faço com as autoras contemporâneas. E também uma autora como a Ferrante me ajuda a criar uma tentativa de uma verdade sobre essas personagens. E as minhas personagens, elas estão em situações de limite e de crise. E a Ferrante, assim como a Clarice Lispector, por exemplo, me ajudam a pensar nesses homens, mas principalmente essas mulheres, nesse estado de crise.”
Caixa-Preta - Reencontrar a criança
Paulo Henrique Passos é um dos novos nomes de destaque da literatura contemporânea, é meu conterrâneo nordestino e ex-aluno de escrita criativa. Seu romance mais recente, bastante marcado pela literatura fantástica, é Livro sem nome, publicado pela editora Patuá. Paulo mantém um site de entrevistas com escritoras e escritores contemporâneos chamado Caixa-Preta. Tive a honra de ser o entrevistado, no momento de publicação desta edição,mais recente do site.
A entrevista foi realizada ao longo de algumas horas por troca de áudios de zap. Assim como Isis, da Mídia Ninja, Paulo é alguém que de fato lê seu livro e constrói a partir desta leitura um pensamento crítico a respeito. Além disso, também é um leitor desta newsletter, o que me alegra demais. A entrevista para Caixa-Preta abordou bastante Gótico Nordestino, porém em um viés sobre o qual falo menos: a presença constante de crianças e adolescentes no livro. Tomando este tema como ponto de partida, me abri sobre minha infância e de como ela define minha jornada adulta. Não é por acaso esta abertura, porque iniciei há meses um processo de análise (escreverei a respeito por aqui ainda este ano) e a infância, para além da demanda principal que me levou à análise, tem aparecido com regularidade nas sessões de terapia. Além disso, falamos sobre o gótico na literatura e sobre minhas pesquisas para meu novo romance.
Quer ler a entrevista? É só clicar aqui. Abaixo, deixo dois trechos dela.
Minha infância e a literatura
“Eu nunca tinha falado sobre isso, sobre essa questão da solidão na infância. Seja em relação a mim, ou seja em relação às minhas personagens. Então, eu acho que tem um caminhar pela solitude, que tá ali também, nas minhas personagens infantis, e que é um pouco reflexo do que eu vivia. Uma das minhas brincadeiras favoritas, por exemplo, era pegar jogos de tabuleiro e jogar sozinho. Jogo da vida, Banco imobiliário, Scotland Yard. O que eu fazia, Paulo? Eu misturava as peças e criava joguinhos que eu próprio jogava pra mim mesmo. Esse brincar solitário está ligado também a brincar comigo mesmo num plano que não é só o plano das relações sociais concretas, mas também no plano da fabulação, do imaginar. Então, tem traços da personalidade dessas crianças, são traços da personalidade da criança que eu fui.”
Sobre meu próximo livro de ficção
“Eu posso dizer que o romance se passa pouco depois que o Bolsonaro perde a eleição. Ele se passa em João Pessoa, no Recife, em Campina Grande, e no Cariri paraibano. Ele tem uma relação com a ficção científica um pouco mais forte do que tudo que eu já tinha escrito antes, né? Ao mesmo tempo, algumas das questões do Gótico Nordestino voltam a aparecer, em especial as questões da família. É um romance em que também falo de algo que eu nunca aprofundei muito na minha escrita e que a partir de agora quero aprofundar mais, que são as relações amorosas, em especial os encontros e desencontros entre homens e mulheres. Isso está muito forte no romance. O que mais posso falar? Ah, sim, eu diria que esse romance, a escrita dele, busca reconectar um pouco o meu estilo ao meu livro anterior ao Gótico Nordestino, ao Na outra margem, o Leviatã. Muitas vezes estou escrevendo o próximo livro como uma resposta, às vezes até um contraponto, ao anterior.”
Um beijo para todos vocês neste sábado. Espero que este compartilhar das entrevistas não seja excessivo, é que elas me deram uma alegria danada.
C.
Adorei! Muito bonito esse diálogo todo ❤️
Eu já quero fazer outra dessa! Obrigada demais por sua disposição, disponibilidade e por compartilhar tanta coisa legal, Cristhiano.