Linguagem Guilhotina #9 (V.2) - Uma ocupação literária
Compartilho com vocês minha participação em alguns eventos literários e acadêmicos recentes.
Ocupações Literárias
A edição de hoje é um bocado diário de viagens e também compartilhamento com vocês de atividades futuras. Para quem chegou por aqui recentemente, se deparou mais com textos ensaísticos e/ou de crítica literária. No entanto, criei este blog com o intuito de também registrar eventos ou futuros projetos. É o caso da conversa que teremos hoje.
O mês de abril, que agora se encerra, foi o início do meu “ano literário”. Em 2024, por enquanto os eventos que foram agendados comigo são so que rolaram em abril. É sempre bom fazer eventos, mas como a minha temporada literária de 2022-2023 foi um bocado intensa, sinto que 2024 é um ano de respiração. Assim, espero que daqui até setembro (mais abaixo explico por que falo em “setembro”) continuem rolando convites, mas nada tão acelerado ou acumulado como nos anos anteriores. Em 2022/2023, aliás, além dos encontros presenciais, houve muita coisa on-line. Por fim, como comentei aqui, finalizei o primeiro manuscrito do meu próximo livro de ficção. Ele repousa numa boa na gaveta, enquanto eu tiro da frente algumas encomendas de contos que preciso enviar para diferentes editores até agosto. Assim, estar num ritmo mais devagar na carreira literária é importante neste momento.
Semanas atrás, fui pela primeira vez na vida em Campinas lançar a antologia O concerto das letras, que tem um conto inédito meu, na linda livraria Candeeiro. A antologia é organizada pela escritora Jéssica Cardin e o evento contou com uma inspiradora performance de um violoncelista. Depois, eu, Jéssica, Mari Salomão Carrara e Simone AZ falamos sobre nossos contos. Em seguida, rolou sessão de autógrafos da antologia e dos nossos livros (os exemplares do Gótico Nordestino que tinham pela livraria foram todos vendidos, fiquei feliz).
Os eventos que rolaram após Campinas se somaram a demandas da vida pessoal, demandas essas que se intensificaram em dias recentes. Na sexta-feira (26/04), tive o prazer de mediar uma mesa com o escritor e pesquisador Leonardo Villa-Forte, que foi o conferencista de encerramento do primeiro congresso de literatura expandida que o Programa de Pós Graduação em Letras organizou no Mackenzie, onde dou aulas. O trabalho de Leo é muito bom e ele fez um panorama do que significa escrever para além dos modos convencionais de fazer literatura. Percebi que a área do campo expandido da literatura é um fruto bem interessante, seja na teoria, seja na prática criativa, do encontro entre as Artes Visuais, em especial Arte Contemporânea, e a Teoria da Literatura. O mais legal foi o pós-congresso, quando pude conversar mais com Leo, reencontrar minha amiga Jamyle e conhecer a escritora Juliana Leite.
No sábado, aconteceu o lançamento do romance mais recente de Tércia Montenegro. A Cia das Letras me pediu para mediar o lançamento. Gostei do livro de Tércia e recomendo a vocês. Também curti conhecer a escritora Natércia Pontes e reencontrar Emilio Fraia, escritor e editor de Tércia. Na conversa de lançamento, falamos bastante do romance. Apresentei minha hipótese de que Tércia, neste livro, retoma dois temas fundamentais do romance moderno, que são a família e a memória; falamos, também, de "literatura nordestina" e das armadilhas desta nomenclatura. Curioso: não será a última vez, no final de semana que passou, que precisei debater este tema.
Lá do lançamento de Tércia Montenegro corri para pegar a tempo meu voo de Congonhas até Natal. Participei da programação de um novo evento literário que promete agitar o calendário cultural da cidade: o Ocupação Literária. Fui muito bem recebido. Além disso, adorei me deparar com uma Natal nublada, que deixou a atmosfera da minha viagem mais introspectiva e melancólica, do jeito que gosto e do jeito que tenho precisado.
Sem dúvidas, por ter sido a primeira edição, ajustes podem e devem ser feitos; por outro lado, avalio o evento como já maduro e com uma curadoria instigante. Algo que me agradou demais é que não existiu diferenciação entre autores “nacionais” e “locais”, um erro típico de eventos de pequeno e médio porte. Pelo contrário, todos fazemos literatura brasileira e devemos ser tratados de igual forma, moremos na cidade do evento, ou não; publiquemos de forma independente, ou através de editoras. Fiz uma mesa sobre literatura de horror com os autores potiguares Márcio Benjamin e Leander Moura. Outra vez veio à tona a questão do nordeste, das múltiplas formas de entender literatura brasileira e qual o papel da literatura fantástica, e do horror, nesse debate.
Terminado o evento e os autógrafos, já de madrugada voltei para São Paulo para resolver os problemas do dia a dia e finalizar meu primeiro curso livre do ano, o de introdução à literatura fantástica, ministrado on-line no Astrolábio. Fiquei satisfeito com o resultado do curso e me parece que a turma gostou também.
Ufa! Meio corrido, né? Mas nossa conversa não acabou.
Cristhiano, tu não ia cair fora do Brasil em maio? Por que tu ainda tá por aqui mesmo?
Sim, é possível que você, amigo, colega ou parceiro de trabalho, tenho me ouvido falar sobre mais uma viagem de trabalho acadêmico que farei para os Estados Unidos, após a ótima temporada do meu pós-doc em Princeton em 2023. A viagem ocorreria em dezembro de 2023, depois foi transferida para o fim de maio de 2024 e, agora, infelizmente, e com um bocado de frustração, digo a vocês que foi necessário mudar a data da viagem para a metade de setembro de 2024. Trata-se de uma missão de trabalho com financiamento da Capes e que ocorrerá ao longo de um período de três meses. No entanto, uma série de fatores a têm impedido: minha pouca habilidade com a burocracia e problemas práticos, somada, de maio em diante, a problemas fortes de comunicação e de prazos entre duas instituições envolvidas no processo.
Digo isso porque estou, portanto, com agenda aberta para freelas e eventos do período de maio até o meio de setembro. Achei legal colocar isso aqui, porque recusei alguns freelas para esse período, assim como comentei com uma ou outra pessoa envolvida em organização de eventos a minha indisponibilidade original de datas. Viajando em setembro, volto de vez na metade de novembro para o Brasil.
Proximo curso: Literatura brasileira na Escrevedeira
Desde 2022, tenho me disponibilizado mais para dar cursos fora do Mackenzie, seja de escrita criativa, seja de história e análise literárias. O meu próximo será um curso mais longo, de doze aulas, em que eu proponho uma visão panorâmica da literatura brasileira nos séculos XX e XXI. Ele será on-line e é voltado para o público geral. Não precisa ser formado em Letras, ou algo assim, nem precisa ter lido qualquer obra dos escritores que trabalharei ao longo do curso. Eu vou falar um bocado de como entender a nossa literatura modernista e contemporânea, qual sua importância social, além de comentar autores e autoras e de fazer várias análises de obras literárias junto com a turma. Será um desafio, mas estou bem animado! Bora? Deixo o link com mais informações aqui.
Por fim, a amizade
O tema da amizade tem vivido na minha cabeça nos últimos meses. Volto a isso outra vez. Tenho pensado sobre amizade, tenho tido vontade de escrever sobre amizade. Precisei bastante dos amigos e amigas; espero que eu tenha ajudado também quem precisou de mim.
Abril foi o mês que eu consegui finalmente sair de casa, depois de fevereiro e março trancado no meu mundo. Revi presencialmente amigos, recebi visitas, redescobri a vida lá fora. E, no final de semana que passou, voltei a gostar de comungar com meus colegas de profissão - escritores e escritoras.
Nós escritores somos bichos complicados, sem dúvida. Em especial, uns com os outros, porque somos como aqueles felinos territorialistas e solitários. É muita gente e emoções imaginárias na nossa cabeça - este é outro ponto um bocado perturbador da nossa profissão.
Penso, contudo, que a autossuficiência é uma ilusão, inclusive porque se tornou um dos grandes produtos do capitalismo. Eu e você precisamos de pessoas, precisamos nos conectar a pessoas, precisamos amar pessoas… apesar dos riscos. Sim, isso nos deixa frágeis, isso ameaça nosso controle e nossa falsa sensação de segurança. Viver, contudo, não me parece fazer sentido sem o Outro.
Até a próxima!
C.