Linguagem Guilhotina #28 - Então é Natal... E o que você leu?
Na última edição de 2023, compartilho com vocês listas de leituras.
Esta é a última edição da Linguagem Guilhotina em 2023.
Para nós, os que amamos livros, o mês de dezembro é de modo geral o momento no qual nós, e a imprensa e os influenciadores, fazemos listas de melhores livros, melhores leituras, apostas literárias para o ano que virá e por aí vai. Adoro essas listas e sempre fico atento ao que está nelas, mas também ao que elas silenciam.
Cada uma das listas de melhores do ano tem seu componente de aleatoriedade. Por outro lado, não foi raro eu achar ótimos livros nas listas do final do ano, ou, ao consultar uma das listas, ver reforçado em mim o sentimento de que o próximo da fila será justamente Aquele Livro.
Para nossa conversa aqui, eu decidi ser o diferentão. Não farei uma lista das minhas melhores leituras de 2023, em parte porque indiquei quatro livros, dois de ficção, dois de não ficção, para a lista da Quatro Cinco Um.
Decidi fazer o seguinte: indicar 5 livros lançados em 2023 que eu quero ler. E, depois, 5 obras da literatura contemporânea brasileira que, publicadas em anos recentes, vale a pena relembrar. No caso da lista número 2, ela surge de uma angústia em relação à memória que temos do contemporâneo. São tantos livros, tantos Melhores Livros do Ano, tantos Autores e Autoras Anunciadas Como a Grande Voz do Brasil Atual, que me pergunto se não vale a pena lembrar de quem, há um ano, há dois, há três, há quatro anos, também nos brindou com ótimas obras.
Minhas listas, portanto, são de cinco livros que não li, seguida de cinco livros que li. Para não ficar tão longo, não postarei as fotos de todos os livros. Eles também não seguem, nas duas listas, qualquer ordem hierárquica.
🥷🏻 5 livros lançados em 2023 que eu quero ler
A biblioteca no fim do túnel: um leitor em seu tempo, de Rodrigo Casarin (Arquipélago Editorial) - Casarin é um dos principais jornalistas de livros do Brasil, com ótimos podcast, coluna no UOL e newsletter. Neste livro, ele compila seus melhores textos sobre livros e literatura publicados ao longo de sua carreira. É um tipo de livro do qual gosto bastante, porque foca na leitura e no leitor. Me acompanhará nas festas de fim de ano.
Admirável mundo novo: uma história da ocupação humana nas Américas, de Bernardo Esteves (Companhia das Letras) - Sou fascinado por antropologia e pela história das diferentes espécies de hominídeos. Na verdade, gosto de jornalismo de ciência de maneira geral, embora, por demandas profissionais, leia pouca coisa na área. Por isso, acabo sempre, no fim do ano, lendo algum livro de divulgação científica. O de Esteves espero que eu consiga ler nos próximos três meses. Me chamou atenção a proposta do livro, a de pensar a história da ocupação das Américas olhando com atenção o Brasil e dialogando com a ciência brasileira.
A devoração da sutileza, de Juliana Berlim (Patuá) - Acompanho há anos o trabalho da carioca Juliana Berlim como educadora e pesquisadora. Gosto demais da visão que ela desenvolve sobre cultura e literatura a partir da sua vivência como professora da escola pública e da educação básica. Agora, chegou a hora de ver como ela se sai em sua estreia na ficção com este livro de contos, lançado há poucas semanas lá na Flip.
Dor fantasma, Rafael Gallo (Biblioteca Azul/Globo) - Gallo é um dos autores mais premiados da última década. Prova disso é que ele ganhou ano passado um dos mais importantes prêmios da língua portuguesa: o prêmio José Saramago, que premia manuscritos inéditos, justamente por Dor fantasma. Li semanas atrás o primeiro capítulo deste romance e gostei bastante. Não consegui prosseguir na leitura, porque o trabalho me atropelou. Mas espero voltar ao livro e finalizar.
A corneta, Leonora Carrington (Alfaguara/Cia das Letras) - Adoro surrealismo e, nas minhas andanças pelos Estados Unidos, no primeiro semestre de 2023, eu me deparei volta e meia, em exposições, com os quadros de Carrington. Nunca li, porém, sua prosa. A maluquice literária que parece dar forma a este romance lançado pela Alfaguara tem todos os ingredientes do que eu gosto. Leitura certa para os próximos meses, assim como os contos dela, lançados há um bom tempo por aqui pela editora Iluminuras.
🖨️ 5 livros brasileiros contemporâneos que vale a pena relembrar
Como se estivéssemos em palimpsesto de putas, Elvira Vigna (Companhia das Letras) - Que baita livro este de Elvira, sobre o qual escrevi uma resenha no passado, assim que o romance saiu; minha resenha, aliás, espero que seja republicada em um futuro projeto de não ficção meu. Obra de despedida da autora, que faleceria tempos depois de seu lançamento, o "Putas”, como ela chamava o livro, é sua obra mais bem acabada e poderosa.
Qualquer livro de ficção de Alberto Mussa (Record) - Ok, que trapaça, mas aqui na Linguagem Guilhotina, sou meu patrão, não é mesmo? Acho Mussa um dos mais inventivos e divertidos escritores brasileiros. Sinto que a obra dele anda um tanto fora do radar, ou é impressão minha? Entre os meus vários planos, está o de reler o que já li e dar conta do que ainda não devorei de seu trabalho. Por isso, indico qualquer livro de Mussa, que comete a proeza de misturar Jorge Luis Borges com capirinha.
Poesia completa, Orides Fontela (Hedra) - A poesia de Orides Fontela é o meu tipo de poesia contemporânea favorito. Um tanto descarnada, abstrata, concisa, filosofante… Da mesma geração de Hilda Hilst (outra das minhas preferências poéticas) sinto que faria um bem danado uma redescoberta da autora. Sua poesia discreta, cuja predominância é a palavra escrita, possui uma profundidade poucas vezes alcançada na lírica atual em nosso país. Quem nunca a leu, é só clicar aqui.
Coivara da memória, Francisco J.C. Dantas (Alfaguara/Companhia das Letras) - Um dos grandes romances brasileiros a surgir entre o fim da década de 1990 e 2000. Em um estilo arcaizante, mas nunca mofado, o sergipano Francisco Dantas retoma a tradição do romance nordestino de 30, em especial partindo da energia narrativa de José Lins do Rego somada ao pessimismo de Graciliano Ramos. Guardo até hoje a obra de Dantas com carinho na memória, porque foi a partir dela e, posteriormente, a partir da obra do pernambucano Raimundo Carrero, que me iniciei na pesquisa acadêmica em Letras. O romance seguinte de Dantas, Os desvalidos, uma dura narrativa sobre o cangaço, é igualmente poderoso.
Contos de vista, pontos de queda, Marina Monteiro (Patuá) - Admiro demais a quantidade de ótimos autores e autoras que, vindos do Rio Grande do Sul, têm escrito marcantes páginas da nossa literatura contemporânea. Li o livro da gaúcha Marina Monteiro quando fui jurado do Oceanos. Dei uma nota ótima ao livro e me frustrei em não vê-lo ir para uma fase mais avançada do prêmio. Este livro, composto por contos que seguem a nossa vertente de releitura lírica da vida cotidiana, vale a leitura. Em 2020, foi com merecimento vencedor do prêmio AGES de melhor livro de narrativa curta.
Paraty macabro
Na edição anterior desta newsletter, eu compartilhei com vocês que uma das coisas mais divertidas que fiz nesta Flip de 2023 foi contar histórias de assombração para o perfil Das Letras. Gostei demais do resultado e deixo aqui para quem quiser conferir:
Além de compartilhar este vídeo, minha intenção era a de compartilhar com vocês os eventos e publicações recentes dos quais participei. Mas não quero que esta newsletter fique longa demais, então, se você quer saber das novidades, convido a visitar meu perfil do Instagram e ver o que tenho aprontado.
Foram quase trinta edições e agora é o momento da newsletter entrar em recesso.
Eu tenho me divertido muito escrevendo estas maltraçadas linhas para vocês. A newsletter nasceu no começo deste ano de 2023, quando eu estava em uma espécie de “limbo” esperando minhas documentações para ir pro meu pós-doc nos EUA. Com o tempo, se tornou um canal de conversa que tenho prezado muito.
Chegado o mês de dezembro, porém, não sei se tenho assunto. Além disso, acho que há já muitos textos, muitas leituras, muito-muito em nossas gavetas virtuais e reais.
Meu momento agora é de focar na escrita do meu livro novo e dar conta de outros projetos e do encerramento do semestre.
Nos encontramos por aqui em 2024, já em janeiro, ou no máximo fevereiro.
Que tenhamos um ótimo final de ano e um excelente 2024.
Até lá!
C.
Elvira 🖤
Sempre que alguém me pede alguma dica de livro para ler dou um jeito de recomendar "Como se estivéssemos..."