Linguagem Guilhotina #24 - O novo (e o antigo) horror
Nesta edição, divulgo um parágrafo de um conto inédito. E falo do Frankenstein.
Como todo bom autor gótico, escrevo para vocês em um final de tarde chuvoso e melancólico. Chove bastante, neste exato momento, em São Paulo, onde moro, e a temperatura caiu. O sol foi embora: ainda bem.
Aproveito o clima trevoso para dizer que está aberto o financiamento coletivo do segundo volume da antologia O novo horror, publicado pela O Grifo Editora. O primeiro volume foi um sucesso e ajudou a construir o mapa da atual cena do horror literário no Brasil. Organizado por Daniel Gruber, Irka Barrios e Ismael Chaves, este segundo volume traz 24 contos de autoras e autores. Entre eles, este vosso escriba. Fiquei feliz demais com o convite e orgulhoso de fazer parte de uma antologia assim.
Esta semana, fiz uma live comentando este projeto, e o tema do horror em geral em nossa literatura, com Gruber e com Juliana Cunha, uma das autoras que estará na antologia comigo:
Massa, Cristhiano, rola falar um pouco do seu conto?
Sim! Mas só um pouco. Quando a antologia for publicada, aí entro em mais detalhes sobre ele. A O Grifo tem feito um trabalho muito bom de divulgação. Um exemplo disso é que cada conto da antologia tem sido divulgado individualmente com uma “capa”. A minha ficou ótima, aqui está ela pra vocês conferirem:
Houve até um erro de digitação na imagem, porque o título original do meu conto é “A cidade e os cupins” e não “A cidade dos cupins”. Mas, sinceramente, estou pensando em manter o “dos” e não o “e os” (ainda vou falar com os editores sobre isso). O conto sai da ambientação nordestina do meu livro atual. Ele se passa em Brasília e resgata dois personagens meus do meu livro de contos de 2018, Na outra margem, o Leviatã. Um deles, o narrador, se chama Lucas Motta e é o meu alter ego. O conto é ambientado nas primeiras semanas do governo Bolsonaro, em 2019. É a minha tentativa de fazer horror cósmico e comentário político.
Deixo os primeiros parágrafos do conto para vocês:
Quando nos sentamos no banco do parque abandonado, estávamos, Cassandra e eu, envolvidos num círculo denso, dentro do qual nos sentíamos emparedados.
Tínhamos a noite e os cupins – as inúmeras casas dos cupins; tínhamos o abandono; tínhamos silêncio e um peso comprimindo nossas respirações.
- E que tal Brasília, Lucas?
Quem quiser ler o resto, é só apoiar o catarse.
Hoje tem alguma sugestão de leitura macabra?
Sem dúvidas! Li com gosto o romance mais recente do escritor e editor Marcelo Ferroni. Tenho o privilégio de ser editado por Ferroni na Companhia das Letras, através do selo Alfaguara. Admiro-o tanto autor, quanto como editor, e adorei ver que A febre, o romance que ele acabou de lançar, tem muita influência do horror. Vale a pena conferir.
Frankenstein
Ainda neste clima de Halloween, quero indicar para vocês esta linda edição que a Antofágica fez do romance Frankenstein, de Mary Shelley. Escrevi um dos capítulos da edição. No meu texto, “O gótico, o romântico, a imaginação sombria: como nasce um monstro”, eu falo um pouco das estéticas que inspiraram Shelley na escrita do romance. E também me pergunto se nosso tempo contemporâneo não é “frankensteinizado”… Deixo também um trecho para vocês:
Sonhado por uma jovem inglesa no começo do século XIX, o pesadelo que dá forma ao romance Frankenstein ainda hoje continua a nos atormentar. Mais de duzentos anos após a sua publicação, a trágica batalha entre Criador e Criatura se mantém viva não somente nas aulas de literatura, como também na imaginação pop e até em debates políticos contemporâneos. Ao elaborar um clássico da literatura e do horror, Mary Shelley entendeu dinâmicas estruturantes do mundo moderno. Quando lemos Frankenstein, não estabelecemos contato apenas com uma história arrepiante - na verdade, o livro nos ajuda a entender de onde veio nossa sociedade, como ela é e para onde poderá caminhar. Nossa condição solitária, partida, deslocada, polarizada, não deixa de ter uma monstruosidade que foi compreendida, quem sabe pela primeira vez, neste livro publicado em 1818.
Com esta paisagem nublada da minha varanda, me despeço hoje de vocês. E pergunto: o que têm achado dessa nova onda do horror/terror, no Brasil e nas gringas, na literatura e no audiovisual? O que leram e assistiram de bom? Me contem nos comentários.
Se cuidem e até a próxima edição!
C.
ah, curiosa em ler teu conto! 🖤