Linguagem Guilhotina #10 - Reescrevendo, lendo, ouvindo
Nesta edição, em meio à finalização de um projeto, compartilho conversas soltas
O que você tem aprontado, Cristhiano?
Olá pessoal!
Eu tinha planejado não postar esta semana por uma série de motivos.
A cada edição, eu ainda vou aprendendo como funciona a lógica das newsletters...
Algo que percebi é que cada edição de Linguagem Guilhotina possui bastante conteúdo, então, em meio a tanta coisa que todos nós estamos lendo o tempo todo, nem sempre é possível ler toda semana o que posto. E tranquilo, digo o mesmo de outras newsletters que acompanho, tenho atualmente uma fila boa de leituras de newsletters para dar conta. No entanto, por enquanto vou manter a periodicidade semanal, até porque, quando eu voltar ao Brasil, no segundo semestre, a retomada das aulas vai me impedir de publicar com tanta frequência por aqui.
O meu foco também tem sido no meu livro novo. Como já falei por aqui e por aí, estou preparando um livro de ensaios sobre literatura brasileira. Por enquanto, é o que posso dizer. Há uma boa conversa com uma editora, que publica um selo de crítica literária do qual gosto bastante. Primeiro, porém, o livro precisa existir e ser publicável. Em seguida, aí veremos. É improvável que ele saia antes de 2024; e um de ficção, não sei, só vislumbro publicar algo novo em 2025 em diante.
Desta maneira, hoje eu só vou fazer uma conversa de boa com vocês. Peguem o cafezinho e vamos nessa.
E como vai Princeton?
A explosão da Primavera aqui na cidade foi bem bonita.
Adorei poder acompanhar a chegada dela, que quase coincidiu com a minha chegada. Em um momento, tudo estava sem folhas; de um dia para o outro, as flores chegaram, sedutoras e acolhedoras.
O frio está diminuindo e vamos chegando ao verão. Creio que cansei um tanto do frio - o verão será bem-vindo.
Eu sei que já deveria ter feito um diário de viagens, falando como é minha rotina, como é a cidade, e tudo mais. No entanto, confesso que fazer isso me dá um pouco de preguiça. Cogitei criar uma newsletter paralela, com o meu dia-a-dia por aqui, mas agora a vontade para isso também passou. Há sempre algum outro assunto, de literatura e cultura, para escrever a respeito; por que deveríamos perder o tempo com a minha vidinha?
De qualquer forma, posto bastante nos stories do meu perfil do Instagram sobre coisas legais que vou achando pelo “pueblo", como carinhosamente Princeton é chamada pelos colegas latino-americanos daqui, e nas vezes que vou em NYC, então quem tiver mais curiosidade pode conferir por lá.
Tenho sido imensamente bem-recebido em Princeton, com direito a um evento que rolou comigo e com o escritor angolano Ondjaki. É um privilégio estar aqui, minha segunda oportunidade de conhecer um bocado da vida acadêmica em uma excelente universidade estadunidense (a primeira vez foi em 2012, na UC - Berkeley). E algo interessante é que, desde minha chegada, em Março, têm acontecido muitos eventos e encontros, inclusive com pessoas que eu não via há muitos anos. Estive de fato ocupado. Agora, desde que Maio chegou, os eventos terminaram, assim como as aulas por aqui. Por isso, tenho focado mais no meu livro de ensaios, projeto para o qual há tempos eu esperava me dedicar mais um pouco.
Pode dar detalhes sobre o livro novo?
O livro novo é um compilado de mais de 15 anos de dedicação a escrever sobre literatura. A maior parte dos ensaios são originalmente artigos acadêmicos, mas também reaproveitei resenhas, ou ensaios publicados em revistas na internet. Além da revisão, tenho alterado algumas coisas, cortado outras; às vezes, junto dois artigos em um só.
Ao longo da minha carreira como crítico literário e acadêmico, escrevi sobre muitos temas e obras diferentes. Para o livro, decidi trabalhar nos ensaios dedicados principalmente à literatura brasileira. Acredito que elaborar o livro morando nos Estados Unidos tenha pesado na decisão. Também acredito que, nos meios literários e editorais cults que frequento, ainda haja algum grau de desprezo pela produção nacional. Ou desprezo por obras de crítica literária dedicadas à literatura nacional. Como de vez em quando gosto de ser do contra, isso também pesou na minha decisão.
Tenho material, escrito em forma bruta, para pelo menos mais dois livros, ou três, de crítica literária. Eu produzi mais do que eu imaginava, ao longo dos anos. Isso tudo um dia vira livro? Não sei. Quero publicar algo, no futuro, sobre literatura insólita; outra publicação seria sobre Bíblia e Literatura. Até 2033 pode ser que esses livros saiam. Após selecionar os textos sobre os quais tenho trabalhado há três semanas, encontrei também uma estrutura para ele que me agrada bastante. Fico bem a fim de mostrar para vocês, porém sei que ainda não é a hora.
Nada de escrever ficção, por enquanto?
Não estava nos meus planos escrever ficção nova enquanto estivesse aqui nos EUA. Depois de escrever contos novos no começo do ano, senti que precisava de uma pausa para arejar as ideias. Além disso, se meu foco está muito na crítica e na vida acadêmica, a dimensão literária fica em segundo plano.
No entanto, eu recebi semana passada um convite para participar de um projeto muito legal. Minha participação implica em um conto inédito. O conto será publicado em uma plataforma digital e vocês devem conseguir lê-lo até meados de julho. Eu geralmente não aceitaria, porque tenho uma relação cada vez mais difícil com encomendas de ficção. Além disso, é um prazo muito curto entre a escrita e a publicação, significando que meu conto será publicado ainda muito “cru".
Apesar disso, aceitei, porque curti o projeto. O conto é uma encomenda paga, o que sempre é um fator de grande estímulo para escrevê-lo!
Por fim, eu aceitei porque tive uma ideia. Ela apareceu para mim faz dois dias como uma imagem. Acredito que eu consiga narrar esta imagem, bem como a vida das personagens que surgem na minha cabeça.
Em julho, vocês poderão ler. O conto caminhará mais em uma linha do neofantástico (aquela vertente em que o sobrenatural se torna algo aceito no nosso cotidiano), porém com a atmosfera do meu Gótico Nordestino. Ele deve se passar em parte aqui em Princeton. Vai ter pelo menos um demônio. E uma conexão com o Seminário Teológico de Princeton, assim como com uma Casa Grande.
Algum rolê legal por New York essa semana?
Sim!
Esta semana (10/05) está rolando um festival literário em NYC, o Pen World Voices Festival, criado por Salman Rushdie. Há alguns nomes latino-americanos - Samanta Schweblin e María Fernanda Ampuero, por exemplo -, mas nenhum brasileiro ou brasileira.
Se tudo der certo, vou fazer uns bate-e-volta por lá. Eu ia hoje, mas deixarei para amanhã.
Falei um bocado e não falei nada, não é mesmo?
Mas continuo gostando demais de escrever por aqui.
Próxima semana, aliás, é meu aniversário. Para comemorar, se minha conta bancária e o cartão de crédito permitirem, pretendo passar uns dias hospedado em NYC. Mando notícias para vocês de lá.
Até logo!
C.
Aproveite muito o aniversário! E força aí nos ensaios