Escrevendo Literatura Fantástica - Minha nova oficina de escrita
E comento também Imaginação x Autoficção e um conto meu que homenageia Dalton Trevisan.
Queridas leitoras e leitores:
Venho divulgar com vocês minha nova oficina: Escrevendo literatura fantástica. Eu vou ministrar esta oficina, que será on-line e ao vivo, pelo recém-inaugurado
, criado por Henrique Rodrigues.Aqui está a ementa:
A literatura fantástica vive atualmente um boom na produção contemporânea brasileira e latino-americana. A oficina se propõe a apresentar várias das suas possibilidades criativas com o principal objetivo de fornecer ferramentas para a escrita de contos e romances fantásticos. Dentro do universo da literatura fantástica, o foco das aulas serão as vertentes do realismo mágico, horror e ficção-científica. As aulas serão compostas por exercícios práticos, apontamentos teóricos e análises de obras ou trechos de obras significativos da literatura fantástica, com destaque especial para exemplos retirados da literatura latino-americana.
Em oito encontros, a ideia consiste em apresentar conceitos sobre o fantástico através de breves discussões teóricas e de contos ou trechos de narrativas fantásticas. Como o resumo acima informa, eu vou direcionar a conversa para as vertentes do realismo mágico, horror e ficção científica. No entanto, tentarei, na oficina, ser o mais horizontal possível nas aulas e contemplar os estilos, temáticas e vertentes que interessem mais aos alunos em seus projetos criativos.
Se você está pensando em começar a escrever literatura fantástica, ou tem um projeto literário em andamento dentro desta estética, que tal se inscrever na oficina? Qualquer dúvida, é só me escrever e continuamos a conversar. Além disso, em determinados casos, o Instituto Caminhos da Palavra prevê a concessão de bolsas.
Para se inscrever e para conhecer mais dos outros cursos que foram ofertados por outros professores e que ainda serão ofertados, é só clicar no link abaixo:
Inscreva-se na minha oficina Escrevendo Literatura Fantástica.
Tempos perigosos
Finalmente, voltei a dar aulas no Mackenzie.
Como vocês sabem, estive afastado durante um semestre por conta da minha visita acadêmica a UCLA, ano passado. É o meu segundo afastamento em quase dois anos. O primeiro foi para realizar meu pós-doc em Princeton, em 2023. Escrevi algumas vezes sobre viver em Princeton e em Los Angeles aqui na newsletter.
Esta semana, foi uma satisfação poder voltar a dar aulas para meus pupilos e pupilas da graduação. Na próxima, inicio meus cursos da pós-graduação. Acho que quero escrever sobre esta volta às aulas, porque quero começar a conversar com vocês, por aqui, sobre o que é ser professor de literatura e de escrita criativa. Em 2025, eu inicio meu ano acadêmico com uma fé renovada no caminho profissional que escolhi dentro da Educação.
Nesta última quarta-feira, tivemos a aula magna do Programa de Pós-Graduação em Letras do Mackenzie, do qual sou um dos professores. Em parceria com meu colega da semiótica Paolo Demuru (já leram o livro dele?), eu mediei uma conversa com Julián Fuks. Julián realizou uma excelente conferência de abertura, na qual fez uma reflexão crítica sobre as potencialidades, impasses e possíveis limitações da autoficção. Após as perguntas da mesa, o autor pôde dialogar com as perguntas da plateia. Fiquei pensando que privilégio singular é este de passar uma tarde inteira falando sobre literatura e cultura contemporâneas. E o quanto a universidade, apesar de todas as suas contradições, é ainda um espaço para construirmos um debate franco e aprofundado sobre cultura e arte.
A fala de Fuks esboçou o quanto a autoficção consiste em uma profunda crise epistemológica sobre as seguintes perguntas: Quem pode narrar? E quem é esse “Eu” que narra a “sua” história? O debate indicou como a autoficção triunfa em um momento no qual é preciso que outras vozes, muitas vezes silenciadas, tenham o direito de fazer parte do palco de debates. Além disso, nunca estivemos tão narcisistas, nunca criamos tantas ilusões, em especial pelas redes sociais, sobre a alegria da nossa vida e da vida dos outros. A boa autoficção parte disso e coloca nosso narcisismo contemporâneo em um lugar estranho, de desconforto. Assim, saí com uma visão mais nuançada da autoficção. Tenho voltado a me empolgar com esse gênero enquanto leitor.
Por outro lado, continuo apostando alto numa escrita baseada na fabulação e na imaginação. O máximo de “eu” sobre o qual desejo escrever está contido em alguns dos posts desta newsletter. E, sinceramente, senti que me expus até demais em meses recentes por aqui.
2025 começou bem para mim e espero que também para vocês. No entanto, uma sombra paira sobre o mundo neste começo de ano. Poucas vezes tivemos a sensação de que vivemos tempos tão perigosos... É possível que respostas contundentes por parte da literatura repousem tanto em um choque de muita realidade, mediado pela autoficção, quanto pelo estranhamento das narrativas da imaginação, mediadas pela literatura fantástica contemporânea.
O que vocês acham? Me contem depois.
Vampiros e Dalton Trevisan
Por fim, mando notícias de escrita: finalizei recentemente o único texto de ficção que publicarei em 2025.
Será um conto fantástico que participará de uma antologia em homenagem a Dalton Trevisan. A antologia foi amplamente divulgada no final do ano passado pela imprensa e será publicada pela Autêntica em algum momento no meio de 2025. Quero poder participar dos lançamentos. Certamente teremos eventos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte.
Meu conto se passa em parte nos anos 80, em parte em 2025. Não vou falar muito dele, mas está bem no universo do Gótico Nordestino. Ele está numa encruzilhada entre horror, gótico e realismo mágico. Diria, talvez, que é um conto mais gótico e do realismo mágico do que de horror, como tem sido a tendência da minha escrita de contos recentemente. O que posso dizer é que ele volta a abordar o tema do vampirismo, que é uma das minhas obsessões, e que é a narrativa na qual eu dou conta, de modo mais explícito, da minha origem evangélica e da visão que hoje tenho das minhas origens.
O conto tem sobrenatural, tem sexo, tem vingança e tem um bocado de humor e constrangimentos. Ele é meio pop, ele é meio Almodóvar e é meio gótico do século XIX. E é uma sincera carta de amor a Dalton Trevisan e à sua obra.
Escrevi essa newsletter no intervalo entre os trabalhos, mas agora #sextou. Vou ali aproveitar um show do Vapors of Morphine. Depois conto como foi pra vocês. Que tenham um ótimo final de semana!
C.
O vampiro Dalton no universo de Gótico Nordestino, nem eu sabia que precisava ler isso! Está se aperfeiçoando em fazer dos autores personagens!